O prédio era grande, desses tão bipartidos e confusos que somente em um andar já era possível se perder. Inúmeros elevadores, apesar do pouco acesso à saída. No ultimo andar, uma mansão de um não-sei-quem simpático, colecionava objetos estranhos. Não se importou que eu ficasse com algum deles, mas não que eu houvesse pedido também.
Eu não sabia exatamente como havia chegado ali, isso nunca foi muito claro. Eu também não sabia como iria sair, e ai que residia o problema. O lógico seria simplesmente que um dos elevadores me levasse ao térreo, ou ao menos a algum átrio. Não levava. Sair dali era uma tarefa quase impossível, e, apesar da simpatia do anfitrião, dos itens roubados ou das circunstancias em si mesmas, eu nunca desejei estar ali, então a vontade de liberdade era latente. Liberdade não seria bem a palavra, afinal, não estava acorrentada ou mantida como cativa, eu só ingenuamente não sabia como me transportar para o lado de fora, para o mundo onde eu conhecia os caminhos.
Por uma ventura consegui ao menos sair da mansão, o que já era um grande feito. Os outros andares não eram menos estranhos que o meu de minha visita prévia, mas eram mais fáceis de circular. Apesar do número impressionante de pessoas que circulavam por ali, havia ar. E ar significava uma coisa: janelas. Claro que a associação óbvia não veio de imediato, e depois de algum tempo que eu percebi que, para sair dali, a obviedade do ar seguiria a mesma, eu teria de pular. Então eu pulei.
O estranho de se pular assim é não saber exatamente como você chegará ao chão. Ou se há chão. É daqueles atos de desespero que pedem medidas extremas. E medidas extremas foram tomadas. O fato é que eu havia pulado, e isso não tinha mais como ser alterado. Por fim, cai em algo molhado. E frio, muito frio. Por um momento pensei que fosse o mar, mas não havia ondas, a água era doce. Ou ao menos o líquido que me cercava era doce, não havia a certeza de que aquilo era água.
Eu havia saído, mas a ingenuidade havia me tomado uma outra vez, e o que outrora parecia a solução, na verdade era o inicio dos conflitos...
O tipo de prosa onírica que me fascina.
ResponderExcluirParabéns, moça!